Thursday, May 29, 2008

Abençoados são os que sofrem.

A dor do sofrer. O estágio mais puro e franco de crescimento. O momento ideal de ser vencedor. A tinta negra e brilhante que nos inscreve na história.

Bendita seja a agonia, a doença e o infortúnio! Bendito é o fruto da tragédia do mal acaso! Louvo a todos os que sangram, pois estes serão grandes!

Ai dos Deuses que nos dão a felicidade eterna! Mas o que de mais pode haver na alegria, para quem não conhece o pesar? Como pode gargalhar aquele que jamais viu secar em rosto, suas lágrimas?

Ai de Deus, então, se singular fosse, que põe a prova apenas alguns de nós. Uns tantos bem afortunados que provam da dor quente para então beber de seu cálice.

Livrai-me do tédio, senhor, de uma vida rotinera e miserável! Livrai-me das certezas da vida, e faça-me certo apenas de minha própria força!

Quero chorar tonéis de sódio! Livrar gritos agudos de agonia e medo! Deitar meu corpo no frio piso da desesperança, para enfim erguer-me vitorioso e bravo! Forte e destemido!

Quero sentir a negra presença da morte! Deixar que ela sussurre em meu ouvido! Vestir o seu beijo brando! Sentir o roçar de sua lingua, para só então afastá-la e - finalmente - viver pleno!

Oh, destino! Torna claro o meu caminho tortuoso! Apagua-me as luzes da incerteza e faça-me vagar solitário!

Oh, destino! Cubra de pedras minha estrada barroca! Inunda com teu pranto os meus lençóis! Volta a mim toda a sua ira!

Serei forte, diga-me, para suportá-lo? Serei capaz de me erguer perante teu peso? Haverá em mim tal honra?

Pois teste-me sem pudor! Pois ainda que caia a seus pés, derrotado, não poderia haver em mim maior vergonha do que viver perante o mundo sem jamais tê-lo tentado!