Friday, March 30, 2007

Cartas ao Rio Tejo (ou Tajo)

II -

Amor, até onde sei, na Espanha faz mais calor do que aqui em Porto Alegre. E agora é verão aí, tu sabes, né? Não foste nenhuma vez a praia? Já esteve em Portugal? São tantas as perguntas que queria fazer-te... Estou para lançar um livro! Um livro de poemas... Te mandei em anexo o projeto ou seja lá como se chama esse rascunho à ser editado. Espero que gostes.

Não tens idéia do que senti quando cheguei em casa e vi tua carta. Não tens idéia... Foi como se eu pudesse sentir tua boca tocando a minha... Como se finalmente te tivesse ao meu lado. Estamos tão longe... e mesmo assim sinto como se morasse dentro de ti. Não tem um dia que eu não sonhe contigo, mesmo quando acordada, mesmo quando não durmo. Jamais amei outro homem depois que te conheci, e te agradeço por isso, pois me trás um poder incomensuravel.

Estou morando no bairro Moinhos agora, num dos poucos prédios antigos que ainda resistem lá. É um apartamento grande, de dois quartos, embora eu more sozinha... Não que eu esteja bem de grana, mas surgiu a oportunidade e não a desperdicei. Daqui a dois anos eu termino de pagar, isso sem contar a possivel verba que vai entrar com o livro, se der certo.

Não. Não te perdôo por tuas escolhas. Até por que não há o que ser perdoado. Tu fizeste o que qualquer um faria em teu lugar. Mesmo eu não teria deixado passar essa chance. A tua ida para Brasília, ano passado, só serviu pra me mostrar o quão grande é o espaço que ocupas dentro de mim, pois o vazio que senti - e que ainda sinto - talvez nunca será preenchido se não por ti.

Mas amor, não ressinta nem te arrependa de nada, pois embora tenha duvidado outrora, posso sentir em tuas palavras a sinceridade de teu amor por mim. E isso me põe novamente feliz.

E sobre o perfume? Não tenho nem palavras pra descrevê-lo! Conhece-me mais do que eu mesmo posso conhecer, e mais uma vez provaste isso. Não usarei mais nenhuma gota desse frasco, e ele ficará guardado junto com a carta que mandaste, que espero não ser a última. Sabes que não é meu estilo palavras tão melosas, mas estou tão excitada com a tua lembrança que mal posso me conter.

Faço planos, muitos deles. E todos eles te incluem. Hoje eu vejo que não sou a mesma desde que te conheci, e eu gosto dessa nova pessoa que hábita dentro de mim. É como se tu fosses a fonte de energia da minha felicidade, que não aceita mais nada além de ti.

Não posso dizer muito de meu corpo, mas não preciso mentir ao dizer que ele sente falta da tua cama. Prefiro nem falar sobre a França, mas espero que quando falarmos novamente, esteja falando francês, fluentemente!

Aqui jaz um de meus poemas, que não inclui no livro, pra poder fazê-lo somente teu...

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Dormi fora hoje.
Deitei no gramado escuro
e dormi.
As estrelas sangravam
lágrimas de tristeza
A lua profanava teu nome
por ter me feito chorar.
E em prantos, dormi.

Dormi fora hoje.
Pensei ser teu os cabelos que eu tocava
Pensei ser tua a boca que beijava.
Dormi.
Os relógios resmungavam
Amaldiçoavam-te por fazer-me lembrar.
E em outro colo, dormi.

Dormi fora hoje.
E saí na rua a vagar
A escuridão parecia me consolar
Pensei,
Mas o vento soprava forte.
E maldizia-me por querer te buscar.
Vi teu corpo abraçado ao meu.
E, nua, dormi.
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Eternamente tua...
Beijos

Thursday, March 29, 2007

Cartas do Rio Tejo (ou Tajo)

I- Reencontro


É meu terceiro mês aqui na Espanha. E o curioso é que agora, no momento que escrevo, estou suando e morrendo de calor. Não sei se por ignorancia minha, mas não sabia que podia fazer tanto calor na Europa... E um calor que não passa desde julho, embora banhado por chuvas. Talvez seja o aquecimento global... Mas já me alertaram que logo esfriará.

Finalmente chegou o piano que encomendei! Foi a primeira coisa que fiz quando cheguei, sabes que dele provém meu sustento e meu trabalho, e também minha alegria. Ainda não pude visitar a França, como desejava. Não que seja algo muito dificil, estou ao lado de Madri, mas tive que me virar esse tempo todo sem meu piano. Algo curioso aconteceu, inclusive! Um dos rapazes que carregava o piano é brasileiro! Estranhamente ele me reconheceu, e disse que participou de um workshop que fiz em São Paulo. O que é ainda mais impressionante, por que fiz apenas um workshop por lá. Agora ele é meu aluno de piano e meu guia, nas horas que preciso. Em bem pouco tempo eu já sou reconhecido como musico na cidade, e isso é algo que não podia prever e nem tinha a pretenção de que acontecesse.

Esse perfume que te mando, comprei em Madri, e achei simplesmente extraordinário! Fico triste em saber que talvez eu nem tenha a chance de sentir esse aroma no teu corpo. A saudade me devora um pouco todos os dias, e de certa forma acho que esta carta ameniza um pouco as coisas para mim... Alias, ainda mais pra ti, se é que ainda me tens apreço.

As vezes penso que estraguei tudo, e peço que me perdõe por minhas decisões... Ainda tenho esperança de que a vida nos una novamente, ou primeiramente, já que nunca estivemos mesmo juntos. Não sei se poderia viver novamente a vida que tinha à alguns anos atrás... Não. Tenho certeza de que nao poderia. Mas hoje sei que seria capaz de sacrificar muitos de meus sonhos em teu nome. A vida sem ti é quase meia-vida, se é que chega a tanto.

Essa semana vou visitar a França. Vou para Montpellier ou talvez para Marseille. Pretendo me estabelecer em uma dessas duas cidades mediterrâneas, para ficar próximo do mar. Vai ter uma parada gay esse domingo em Montpellier, pelo que sei. Talvez eu nem passe por lá, ou talvez vá dar uma olhada...

Sinto teu calor em minha cama todas as noites... Mesmo naquelas em que eu durmo sozinho. Te prometo uma musica, ou talvez eu te deixe em paz, para seguir sua vida da maneira que preferir...

Mais uma vez, espero que me perdõe por minhas escolhas, e pelos caminhos que tomamos.


De alguem que ama demais e pra sempre...

Sunday, March 25, 2007

Ando tão carente de poesia... Principalmente da minha poesia.

Tá no livro que a cris me deu: "Pergunte a si mesmo, na hora mais silenciosa da madrugada: 'Preciso escrever?' Se o senhor poder enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples 'Preciso', então o senhor deve basear sua vida nessa necessidade."

Gostei mesmo desse livro do Rilke, é como um manual.

Tenho sentido uma necessidade tão grande de escrever...
Continhos como esses saciam a minha sede.

"Melancólico e trsite como poetas romanticos"
realmente considerei um elogio ^^


brigadão paulinha! o/

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Acordou-se num susto. A clareza dos fatos em sua mente era semelhante a escuridão do quarto, e ambas eram assustadoras. Retornou a deitar, e percebeu soluçando o quão enxarcado estava seu travesseiro... Desistiu da cama. Abriu a janela da varanda e se sentou. Pensava em tanta coisa que não tivera chance de dizer... Sentia raiva de tudo que havia acontecido. Uma raiva quase insana. "Não é justo!" pensava aos prantos... Mas o que de fato era ?

Sentiu-se sozinha. Como se tudo houvesse morrido pra ela. Como se o chão não estivesse mais sob seus pés. Sentiu-se tonta, e chorou ainda mais. Queria que alguem pudesse vir abraça-la, queria ouvir que estava tudo bem... "essas coisas acontecem, é natural." Queria crêr que agora ela estaria em um lugar melhor, como dizem. Mas o único lugar que ela devia estar era ali, do seu lado, velando seu sono como antigamente. Isso soava em sua cabeça como uma obrigação, embora tivesse plena conciência de que isso era uma idéia absurda! Absurda e egoista.

Uma musica parecia soar em sua cabeça... Como se sussurrada por uma voz conhecida. Como se ela ainda estivesse sonhando... Aquela melodia a fez suspirar e se sentir quente. Atingiu um estado de torpor e finalmente cessou seu choro, embora ainda soluçasse bastante... Sentia-se mais aliviada, apesar de poder ver claramente a tristeza sentada ao seu lado.

Se acalmou... Pode então notar a noite linda que fazia, e perceber que estava muito frio pra ficar no sereno de camisola. O céu estava limpo, cheio de estrelas, e parecia vir de lá a única luz que iluminava a cidade. De certa forma isso à relaxou um pouco...

Voltou a sentar. O vento parecia soprar diretamente em seu rosto, enxarcado de lágrimas... Parecia querer enxugá-lo. Era como se a noite a abraçasse em consolo. Como se um anjo descesse da fria noite para levar embora a tristeza. Um anjo estranhamente familiar...

Finalmente sentiu-se forte para voltar pra cama.

Thursday, March 08, 2007

Esse é um continho encomendado pela menina duda =]
Ela é bem legal, sabe ? Apesar de tá sempre querendo que todo mundo morra e tals...
Acho que ela supera isso... ^^

O tema é elevador, eu escrevi dois e um ficou beeeem ruim!
Esse eu achei legalzinho até...

Digam o que acharam! =D

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Era um edificil antigo, de apartamentos grandes e aconchegantes. Boas pessoas moravam naquele lugar. Ao todo eram dez residências, duas por andar, sendo o térreo do zelador.

O zelador era um homem velho, meio corcunda, de cara fechada - mas não emburrada. Era uma pessoa que não falava muito. Alguns diziam que ele era tão velho quanto o prédio e que já nascera zelador, mas não é verdade não.

O sujeito era bem querido entre os condôminos. Talvez isso se devesse a um hábito que ele havia criado: todas as manhãs ele escrevia um pequeno poema ou frase bonita no espelho do elevador principal. Dizem que ele fazia isso com sabão, mas o que sei é que ele usava um batom escuro, de tons azulados, não sei bem descrever. Diziam também que era o batom preferido de sua falecida esposa, talvez pra tornar a história mais misteriosa, mas a verdade(e essa eu sei bem) é que foi sugestão de uma menininha simpatica que morava lá.

E ele era tão religiosamente fiel à esse costume!... Nunca havia deixado o espelho do elevador em branco! Teve uma vez que ele passou dois dias fora, em algum casamento de parentes no interior, mas nesse dia ele deixou um poema maior, que ocupara o espelho até ele voltar.

AContece que esse meu amigo (quem casou com a menina do batom, e quem me contou essa história) diz que gelou um dia ao entrar no elevador e ver no espelho apenas o seu reflexo! Pela primeira vez em muitos anos, não havia nada escrito ali. Correu pra casa, para avisar sua mae, que correu para chamar a vizinha e logo o prédio todo queria saber onde estava o velho zelador. Na sua pequena casa não havia ninguem. Embaixo da porta, porém, bem acima do tapete de boas vindas, jazia um envelope bem antigo, que guardava o batom-caneta-de-espelho do sujeito.

Mais tarde ficaram sabendo que ele tinha uma doença bastante grave, e que o velho não era tão velho assim. E que naquele noite ele passou mal e acabou não resistindo.

A tristeza que todos sentiam era algo estranho e bonito de se ver. Ninguem de fato conhecia aquele senhor. Muitos nem sequer sabiam seu nome. E todos compartilhavam do mesmo remorso de nunca ter se dado conta da importancia daquele bom homem em suas vidas.

E naquele dia, foi posto dentro do elevador o envelope com a caneta-de-espelho do falecido, para que todos que quizessem escrever alguma mensagem, uma ultima mensagem para alguem tão querido. Ao final do dia, o espelho estava lotado, totalmente diferente dos corações dos condôminos, que amargurava o vazio deixado pela morte do zelador e de seus poemas.

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Tuesday, March 06, 2007

É... até que eu consegui postar algo novo num tempo não tão distante assim... =P
Foda isso... Eu to com um puta bloqueio na minha escrividão e a cris que tem uma cadeira de bloqueios criativos e o caralho a quatro!
Mas de qualquer jeito, escrevi alguma coisa esses dias aí e resolvi postar aqui, já que nao tem nada melhor...

Nem tem ninguem comentando nessa coisa aqui mais, mas enfim, espero nao baixar muito o nível(que nunca foi muito alto :P)
E agora eu to namorando tbm, daí nao fico mais descarregando meu lirismo em garotinhas desavisadas. Até pq a ultima que encarou a fera acabou se apegando, com a diferença que teve a sorte de me conquistar e tals...(queeee guri que se acha!!! =O)

ÉÉÉ! o calvin tá namorando!! ^^

Aí tá a droga do poema! espero que comentem, nem que seja pra xingar o autor e tals... ^^

Bibi! Ti amu sua coisa fofa! (puxa saco... ^^)


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Teu Gosto

Ah! O gosto de sangue em minha boca...

E a luz opaca que entra em meus olhos...
Embriagam de tristeza meu destino.

Como se não fosse ausente a dor que sinto
E nao fosse tão presente a saudade
Escrevo, mesmo sem vontade
Que é pra ver se posso te salvar.

Desperta diante de mim!
Vê no espelho a imagem de ti mesmo, não de outrem!
A falsa coragem que te isola
Como um casco reforçado de auto-piedade
Não serão de fato um tormento,
Nem sequer será o sentimento
Que por fim desperte redenção.

Ah!... Teu gosto me é o de maior valor...